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4 de ago. de 2010

A Irmã Distante

Lisa estava irritada, cansada e com medo. Nem parecia estar usando o seu vestido e perfume preferidos.

O ônibus atracaria dentro de meia hora, mas a última hora parecia ter sido mais longa que os 4 dias de viagem, que foi uma chatice. Haviam vários outros jovens no ônibus, mas ela não quis conversar e quase não foi ao salão de jogos.

Ao seu lado, na poltrona da janela, estava a sua mãe, no momento hipnotizada com a Lua crescente. As luzes de da cidade de Galilei lembravam uma nuvem de vagalumes.

A adolescente não queria ter vindo. Seu pai não a visitava há quase um ano. Ele só pensava no seu trabalho nas fazendas da Lua! E agora é ela teria de visitá-lo?

Seus pais se separaram quando ela era criança. Lisa tem uma meio-irmã selenita.
E era isto que a enchia de medo e ansiedade. Ela ia passar as férias com a uma irmã monstra desconhecida! Como ia ser quando se encontrassem? Como seria o convívio com alguém talvez não gostasse dela?

* * *

Lisa aprendera nas aulas de História Contemporânea que os primeiros profissionais que aceitaram trabalhar na Lua ficaram lá até a aposentadoria. A maioria ficou lá até o fim de suas vidas. Eles foram os pioneiros da primeira cidade na Lua, Galilei. Os seus filhos, nascidos em solo lunar, passaram a ser chamados de selenitas. E já estavam na décima geração.

A jovem pensava em tudo isto tentando disfarçar seu interesse pela paisagem lá fora. Todos dizem que os selenitas são arrogantes; não gostam da Terra e nem dos humanos... Mas eles também são humanos, não são? Apenas não nasceram na Terra...
Dizem que os selenitas não são patriotas e que querem se tornar independentes da Terra.
Certamente teriam muita inveja dos terrestres, uma vez que nós podemos ir à Lua e voltar para a Terra quantas vezes quisermos, mas os nascidos em solo lunar jamais poderão ir à Terra, sob o risco de morrerem de infarto.
Os terrestres tem um termo para isto: doença da coluna d'água. Já os selenitas dizem que não são doentes, e que a pior doença vem da Terra: o preconceito.

Lisa cresceu ouvindo da mãe que os selenitas não prestavam, pois tem cor de pele estranha, vivem sempre no subterraneo e, o pior, devido a baixa gravidade, são todos muito altos. Gigantes. E por isto se achavam superiores.

* * *

O ônibus já havia atracado e Lisa estava odiando a alegria de todos com suas bagagens de mão e falando pelos cotovelos. Ela já havia visto muitos selenitas em vídeos, mas ao dirigirem-se ao saguão ela pode vê-los ao vivo pela primeira vez. Todos bem altos. Mas não pareciam monstros como nos noticiários.

Ela teve um sobresalto ao ver o pai que as esperava. Não precisava ser muito inteligente pra saber que a selenita ao lado dele era a sua irmã. Ele não era muito alto, então ela tinha quase o dobro da altura dele.
Na medida que se aproximavam ela se perguntava qual era a cor da pele daquela gigante sorridente. Branca? Cinza?
Ela era um ano mais jovem que Lisa, mas as mãos daquela poderiam esconder facilmente a cabeça desta.
Lisa surpreendeu-se querendo segurar aquelas mãos longas e esqueléticas, de falanges compridas.
O que os vizinhos na Terra diriam se ela abraçasse o umbigo de uma selenita?
Agora era a vez de Lisa ficar hipnotizada. Os olhos da irmã eram enormes. Oceanos brilhantes, profundos.

Cumprimentaram-se, o pai apresentou Suzy a Lisa mas logo pegou a bagagem foi buscar um carrinho. A mãe de Lisa o acompanhou deixando as duas jovens sozinhas por um momendo eterno.

Suzy quebrou o gelo:
"Estávamos esperando por você. Você vai dormir no meu quarto." E fez ambar rirem ao completar:"Minha cama é bem grande."

As duas seguiam os dois adultos mantendo-se a alguns passos atrás.

Lisa quase abraçou a monstra quando a ouviu reclamando:
"Ai! O nosso pai só pensa em trabalho! Quer ir comigo no shopping hoje a tarde?"

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