O casal nu no quarto escuro.
A única luz é do aparelho de som.
Ela tá deitada olhando o teto e ele, de lado, com o rosto escondido sobre o ombro dela.
Ela tá sem sono e ele, sem movimentos.
Tudo o que ele tentou, desde que chegou na cidade grande, deu errado.
Ele está com 3 empregos, respeitado no mercado, mora onde quer, está com a pessoa que sonha, e nada poderia estar mais errado.
Queria casar. Ela quer voltar.
Quer uma família. Ela avisou há uns dias que vai abortar.
Ele tentou de tudo, em discuções homéricas, em falas mansas, em afagos, mas nada serviu para segurá-la.
Ela não era uma marionete que obedeceria ao que ele tentasse.
Ela era livre pra fazer o que quisesse. Este é um mundo livre. Isto é bom.
Mas é ruim pois você não sabe o que virá no dia seguinte.
O Belchior neste momento canta: "a mulher que amei não pode me seguir"
Ele ja chorou muito ali usando-a de travesseiro. Ela não ouviu nada, mas deve ter sentido as lágrimas pingarem no braço.
Neste ponto, o Belchior se identificou com ele e desabafa pelas caixas de som: "A tempo, muito tempo, que estou longe de casa".
Ele se lembrou do amigo, que veio junto com ele, e ontem avisou que tá voltando.
Ela tá voltando! Como ele nao percebeu a infelicidade dela antes?
E o Belchior fofocou: "Ouvi dizer num papo da rapaziada, que aquele amigo que embarcou comigo, cheio de esperança e fé, já se mandou".
Será que ele devia voltar também?
Mas o lugar dele é aqui. E ele não tem medo de nada.
Belchior não voltou! E o lembrava disto: "Eu sou como você! Eu sou como você! Eu sou como você!"
Sem levantar, ele deslizou para os pés da cama, como se estivesse mergulhando. Ela pensou que ele ia abocanhar o seu seio. Mas ele seguiu e transformou o umbigo dela num travesseiro.
Ele não sabia que aquela visão da curva da cintura, do umbigo, o tremer da barriga com medo de cócegas, o veludo e o cheiro da pele, ficariam pra sempre com ele. E o tornariam mais homem, mais medroso, mais corajoso, mais saciado e mais solitário.
Belchior até tentou ajudar a convercê-la a ficar: "faz sol na América do Sul"!
Nesta hora ele decidiu.
Por que ele voltaria? Se é pra ficar sozinho, ficava por ali mesmo.
E resolveu avisá-la.
Que não mais tentaria dissuadí-la.
Que até ajudaria com a clínica de aborto, com a passagem de volta, tudo.
Que não queria mais lutar por um amor unilateral.
Que o filho que ele tanto esperava não seria morto. Seria salvo!
Que ela devia lutar pela felicidade como ele sempre tinha feito.
Ele chegou a inspirar. Antes mesmo de abrir a boca, a barriga parou de respirar, deixando implícito: "Fala, to ouvindo".
Mas ele apenas se perguntou: Medo? Será que estou desistindo por medo?
Ele sempre teve medo de tudo...
E o Belchior gemeu. Gemeu como ele queria gemer: "meeeeedoooooo"
Não achou forças pra falar o que selaria o fim de tudo.
"Morte, a certeza"
Enterrou o nariz no umbigo dela como um avestruz e chorou.
Chorou copiosamente, ruidosamente, quase a ponto de não ouvir:
"meeeedoooo"
"...ainda está por vir..."
"...o que será de mim?..."
O peso de tudo. Da solidão que viria, do fracasso ao constituir família, a incerteza se ficava ou se voltava... As longas discuções... A ala "baby" do supermercado... ele tava em frangalhos. Tudo era um rolo compressor, seguido por uma colheitadeira...
Não, Belchior, nada sobrou aqui. Nem medo! E logo, logo, nem lágrimas.
"Medo? está por fora!"
"Sertão no coração".
Ali mesmo o trapo dormiu...
Não continuou a estudar a vida que queria dar.
Pela manha, o trapo começou o processo de remendar tudo. Iniciou o fim.
Ela começou a separar algumas coisas e colocar numa caixa.
Ele tirou forças do maior dos tesouros: Café com leite, pão com manteiga.
"João! O tempo andou mexendo com a gente sim!"
Mas o meu tempo não acabou!
"A felicidade é uma arma quente"
E muito! Mas um dia aprendo a arder sem queimar!
"Saia do meu caminho! Não preciso que me digam de que lado nasce o sol!"
Qualé, Belchior! Agora tá repetindo as palavras dela, é?
Toma. O CD do Belchior. Pode levar.
Belchior - Comentários a respeito de John
Belchior - Pequeno mapa do tempo
Belchior - Tudo outra vez
Belchior - Fotografia 3x4
30 de ago. de 2009
22 de ago. de 2009
The Book of Love
Uma coisa boa ao assistir a Globo! Quem diria, hein!?
Eu tava trabalhando e sempre deixo algo ligado pra ter barulho.
Não pode ser algo que eu goste, senão, me desconcentra.
Então a TV é algo util pra se deixar ligado nestas situações.
E hoje aconteceu que a TV ficou tão legal que me chamou a atenção. Uma cena de um filme com o meu chará, Richard Gere, com uma música, que amo, como trilha sonora: The Book of Love dos The Magnetic Fields
The Magnetic Fields myspace
The Magnetic Fields - The Book of Love
O Peter Gabriel também gravou esta música. E a versão dele me comove mais que a original. Na verdade, ela divide o podium com a Monte Castelo do Legião Urbana na posição "músicas que SEMPRE me fazem chorar".
Na verdade, enquanto digito isto, estou ouvindo o seu Peter, e chorando em bicas!
Peter Gabriel Oficial Site
E... Hei!! Eu ia postar um vídeo com a versão do Peter Gabriel e me deparei com um vídeo dela com a cena do filme que citei acima! Conveniente!
Book of love - Shall we dance
Sinto muita falta de me apaixonar de novo a ponto de fazer sentido entregar uma aliança...
The book of love is long and boring
No one can lift the damn thing
It's full of charts and facts and figures and instructions for dancing
But I
I love it when you read to me
And you
You can read me anything
The book of love has music in it
In fact that's where music comes from
Some of it is just transcendental
Some of it is just really dumb
But I
I love it when you sing to me
And you
You can sing me anything
The book of love is long and boring
And written very long ago
It's full of flowers and heart-shaped boxes
And things we're all too young to know
But I
I love it when you give me things
And you
You ought to give me wedding rings
And I
I love it when you give me things
And you
You ought to give me wedding rings
And I
I love it when you give me things
And you
You ought to give me wedding rings
You ought to give me wedding rings
Eu tava trabalhando e sempre deixo algo ligado pra ter barulho.
Não pode ser algo que eu goste, senão, me desconcentra.
Então a TV é algo util pra se deixar ligado nestas situações.
E hoje aconteceu que a TV ficou tão legal que me chamou a atenção. Uma cena de um filme com o meu chará, Richard Gere, com uma música, que amo, como trilha sonora: The Book of Love dos The Magnetic Fields
The Magnetic Fields myspace
The Magnetic Fields - The Book of Love
O Peter Gabriel também gravou esta música. E a versão dele me comove mais que a original. Na verdade, ela divide o podium com a Monte Castelo do Legião Urbana na posição "músicas que SEMPRE me fazem chorar".
Na verdade, enquanto digito isto, estou ouvindo o seu Peter, e chorando em bicas!
Peter Gabriel Oficial Site
E... Hei!! Eu ia postar um vídeo com a versão do Peter Gabriel e me deparei com um vídeo dela com a cena do filme que citei acima! Conveniente!
Book of love - Shall we dance
Sinto muita falta de me apaixonar de novo a ponto de fazer sentido entregar uma aliança...
The book of love is long and boring
No one can lift the damn thing
It's full of charts and facts and figures and instructions for dancing
But I
I love it when you read to me
And you
You can read me anything
The book of love has music in it
In fact that's where music comes from
Some of it is just transcendental
Some of it is just really dumb
But I
I love it when you sing to me
And you
You can sing me anything
The book of love is long and boring
And written very long ago
It's full of flowers and heart-shaped boxes
And things we're all too young to know
But I
I love it when you give me things
And you
You ought to give me wedding rings
And I
I love it when you give me things
And you
You ought to give me wedding rings
And I
I love it when you give me things
And you
You ought to give me wedding rings
You ought to give me wedding rings
Referência:
cotidiano,
Musica,
Peter Gabriel,
Romanticos,
The Magnetic Fields
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