Imagine que vc tá no início de um feriadão de 3 dias, num hotel fazenda com muita coisa pra fazer e muita gente interessante. Parece até que hoje vc vai desencalhar!!!
Pode sair, se encontrar com amigos, ler, assistir o que quiser, piscina, quiosques...
E acontece que uma pessoa amiga deixa proximo um quebra-cabeças. Você olha pra ele, aceita o desafio e começa a tentar resolvê-lo.
Um quebra-cabeças, uma charada, é como um túnel. Você entra e só haverá uma saída do outro lado, que é quando você acha a solução.
Agora você está no seu quarto do hotel fazenda e empacou na solução. Por todos os lados que vai, não acha a solução do quebra-cabeças.
Alguns podem desistir logo, outros afixionados vão insistir. Mas, quantos passarão os 3 dias do passeio, ininterruptamente, sem dormir, sem aproveitar o passeio, dando murros em ponta de faca contra o quebra-cabeças, sem descanso?
Bem, se você fizer isto, acabou de jogar fora 3 dias de sua vida por não ver uma coisa que está em um nível acima. Tinha tanta coisa melhor a nossa volta!
Qual a solução deste conflito uma vez que não encontra a saída deste túnel? Simples. Abortar a missão. Abrir uma porta lateral e abandonar o túnel.
O meu ponto aqui é mostrar que num momento o problema do quebra-cabeças é enorme. É a nossa vida. Nada mais existe. Vemos o universo do jogo como sendo nossa vida.
Esta forma de ver o jogo nos dá o risco de se ver pequeno diante dele.
Mas, se pararmos pra olhar de fora, o jogo passa a ser pequeno como um jogo, mesmo que não o tenhamos vencido.
Esta mudança de ponto de vista sobre o jogo é crucial. Ele deixa de ser a nossa vida e passa a ser somente um item pequeno nela. O mesmo é com qualquer outro problema de nossa vida. Sempre um problema será somente um item de nossa vida. E nunca será o mais importante.
Se num momento o jogo é maior que você e logo depois ele é só um jogo, não é por que ele mudou. A forma com que você olhava pra ele é que mudou.
Muitos conflitos do dia-a-dia deviam ser vistos assim. A pessoa que vemos como nosso oponente não vai mudar nem eu. Vamos passar a vida toda brigando?
Não! Basta olhar as coisas de uma forma que a pessoa, ou o aspecto dela que nos incomoda, fique distante e desimportante. A saída as vezes não é resolver o conflito. É vê-lo como algo insosso, como só um item em nossa vida. A solução do conflito não é resolvê-lo. É fazê-lo desaparecer por que vemos algo mais acima, mais interessante.
Assim era a minha briga contra a morte.
Pela minha forma de ver, a morte era uma sacanagem, uma interrupção abrupta na forma como cismei que tem que ser a minha vida.
Como sofri quando morreu Elvis, Schotty do Startrek...
Como doeu o vazio e irreversibilidade da morte de meu pai!!!
Como vencer este monstro cruel?
Hoje estou mais tranquilo.
Não deixei de amar meu pai, nao deixo de sentir a falta dele.
Mas parei de sofrer de forma tão intensa.
Fiz as pazes com a morte? Não, mudei a forma de vê-la.
A morte pra mim é um fenômeno que eu nao inventei, assim como gravidade ou eletromagnetismo.
Assim como excreção, metabolismo, reprodução, a morte é um componente da vida.
Assim como respiração é sinônimo de vida, assim é a morte.
Imagine que todo ser vivo que já surgiu neste planeta não tivesse morrido. Haveria espaço para todos?
Quer outra "vantagem" que tiramos da morte?
Olhe um comercial de cigarros dos anos 70 ou anterior. Veja que porcaria de peça publicitária. Acreidite! As pessoas da época caíam naquele engodo! Eles tinham vontade de fumar ao ver aquele lixo!
Hoje em dia as pessoas são melhores e os publicitários tiveram que se aprimorar cada vez mais para conseguir convercê-las a fumar, assim como festivais chamados "cigarro-jazz festival" ou "cigarro-rock"...
Logo isto não vai funcionar e terão que melhorar as suas campanhas...
Por que o mundo está melhor, a ponto de ter até aviso q faz mal a saúde no próprio comercial que tenta mostrar o contrário?
Por que os materiais, as comunicações, os meios de transporte, tudo está melhor que há 20 anos? Porque a sociedade está constantemente sendo polida pelo processo da morte. Os mais velhos, vão deixando lugar e alimentos para os mais jovens terem sua chance por aqui.
A morte é o moto da evolução que a nossa espécie escolheu. Aliás, que todas as espécies deste planeta escolheram...
Então eu parei de almejar a imortalidade como saída do grande quebra-cabeças "o que é a morte?". Brigar contra ela equivale a pleitear uma chance de não ter nascido. É uma via sem solução.
A saída foi eu olhar o que tem de bom na volta. Foi olhar a morte com outro ponto de vista. Do contrário eu passaria todo o meu tempo neste hotel fazenda chamado Terra apenas dando murro em ponta de faca contra o Ceifador Implacável...
Então eu acordo pela manha, pulo da cama e sorrio. Não morri ainda! O passeio por aqui não acabou! Então qual vai ser o cardápio de hoje? Trabalho? Estudar? Cerveja? Beijo? Faxina? Não importa o que vou escolher, desde que seja algo realmente importante pra mim